Etiquetas

, ,

Há situações em que um pedido de desculpa não é suficiente. Não basta um pedido de perdão, sustentado num conceito divino de graça reparadora que redime pelo apelo constrangido de arrependimento, para apaziguar a consciência atormentada pela culpa. Não é suficiente serenar o tormento da culpa. Há que reparar. Há que embarcar numa genuína procura ativa de reparação do dano. E não há reparo do dano causado sem o cabal reconhecimento de que se nada for feito mais dano sucederá. E isso é inaceitável. Impõe-se mais, muito mais.

Impõe-se a identificação de tudo o que pode favorecer e esconder comportamentos desde sempre intoleráveis. Nunca o abuso sexual de menores foi aceite, em nenhuma cultura ou sociedade. Nunca. Não se trata de uma nova consciência da humanidade que está agora mais sensível e alerta para certos assuntos. Trata-se antes de um fenómeno que sempre aconteceu nas trevas, no silêncio, na subjugação e na opressão. No terror. O que há agora é mais luz. Há sempre uma fenda por onde ela entra e há alturas em que se acendem holofotes. Hoje acenderam-se holofotes.

Impõe-se mudança. Não apenas uma mudança anunciada, mas uma mudança vivida e evidenciada. E a mudança que se impõe não é exclusiva da Igreja Católica. O problema é muito mais vasto. Todas as entidades que têm a seu cargo o cuidado de crianças têm de refletir e de mudar à luz do que é conhecido hoje. Não devemos embarcar em caças a bruxas justiceiras, mas não podemos ignorar o dever de acender e de manter eternamente acesas as luzes que protegem e promovem os direitos das crianças. Esta luz não se pode apagar nunca.